É o lugar mais cobiçado para quem sair da Terra. Lá é lindo, tem montanhas,
muitas árvores, cachoeiras, passarinhos, música boa. As pessoas são todas
belas. Os carros consomem pouco e só tem Ferrari (ônibus, trator, avião, tudo
com cavalinho). As casas têm ar, piscina, churrasqueira, cerveja sempre
trincando. Em Lá tudo é perfeito, político não entra. Em Lá, tudo caiu do céu –
ops, Lá é o céu. Bom, em Lá tem tudo, basta estalar os dedos.
Porém, para
que tudo caia do céu, você precisa preencher alguns requisitos — esquisitos,
mas é assim que Deus quer, então é assim que deve ser.
E estes resquisitos
"junção inventiva entre 'requisitos' e 'esquisitos'" dependem
do cara que fala com Deus. Cara, quem é este? Simples: é um Zé que pode ser
qualquer pessoa, basta receber instruções (telefonema, Whats, sinal de fumaça e
similares) do Todo-Poderoso. Depois que as instruções como: “amar ao
próximo, não falar palavrão e agir conforme o Zé orientar" são
repassadas para você, cidadão comum, basta seguir aquela cartilha e
felicidades. “Você irá pertencer ao mundo perfeito de Lá”. Nessa hora sem
titubear você pergunta: Onde eu assino?
Então, o Zé
Qualquer, o retransmissor das exigências do Poderoso, diz: “Primeiro é
necessário preencher alguns resquisitos”. Aí vêm as exigências e direitos das
partes, multa se descumprir o contrato ou discutir as ordens do Chefão X, taxa
sobre pum, dízimo, “colaboração voluntária” de tantos por cento sobre qualquer
coisa "neste mês, é taxa única — porque o Poderoso tá de bom humor; nos
outros meses, teremos a cobrança normalizada, duas vezes ao mês".
Mulheres também devem pagar "as bonitas telefone fornecido conforme o
agrado, podem sair na faixa" e tem outras coisinhas: auxílio telefone,
gasolina, paletó, por aí afora.
Mas isso são
resquisitos apenas da igreja que você escolheu para comprar um lugar em Lá,
depois de abotoar o paletó de madeira. Existem muitos outros Zés e suas casas
de Deus. Logo, haverá outros resquisitos, que podem onerar as taxas cobradas:
localização, metrô, valor do IPTU e outros.
Só para
constar. Um desses Zés fez um vídeo mostrando como as mulheres de sua religião
chegariam a Lá. Elas deveriam ficar de quatro na praia, e o representante do
Todo-Poderoso, precisava beijar suas bundas. Isso garantiria um lugar em Lá. E
fez até propaganda: “Dê sua bunda, dou uma beijada e você vai para Lá”. Parece
meio estranho, bem, mas quem recebeu o telefonema foi ele, então é verdade.
Talvez isso
soe absurdo. Porém, em um país vizinho ao Paraguai, mais à direita de Ciudad
del Este, tem uns pastores que pedem contribuições voluntárias, que é de espantar
“Zé Pilintra”. O cara vende sal do Himalaia, cimento ungido a 100 conto o quilo
- quanto mais você compra, mais sua casa fica abençoada. Tem também a vassoura
que varre o mal de sua casa por duzentão, e o filtro feito de barro onde o Cara
pisava? Meros milão. Afinal de contas, né... abençoará seus caminhos. Além, é
claro, de outras bugigangas a partir de “deiszão”.
E como um
bom perseguidor de cenouras, você vai engolindo sapos. E um dia, né, é hora de
conferir como ficaram as obras.
Bom, mas
como as pessoas não voltam de Lá, é de se imaginar que tudo que tenha sido
prometido foi cumprido.
Então Lá tá
cheio de virgens, passarinhos, só felicidades, gente bonita, picanha na brasa
em qualquer lugar — também tem muito brócolis, não podemos esquecer os veganos,
meninas e meninos alegres — apesar de Lá ser um paraíso, isso não exclui a
necessidade de satisfazer as preferências de todos, todas, todes e afins.
Aqui cabe
uma reflexão: se os anjos não têm sexo, por que as almas teriam? Bom, se o Zé
que redige as cartilhas não falou nada sobre isso, deve ser assim. Afinal de
contas, tem as virgens, então devem existir almas machos e fêmeas e LGBT... em
Lá.
Bem, agora
que você bateu as botas, é só curtir a felicidade do investimento de uma vida
toda e desfrutar o paraíso que é Lá.
Game over.
É... mas e
se as coisas não forem certinhas como rege o contrato feito pelo Zé, que “diz”
ter falado com DEUS? Tudo pode ser apenas conversa de aproveitadores. E se a
eternidade não existir? Afinal de contas, por que não crer que os ateus tenham
razão? Já que existe diversidade sexual, veganos em Lá e outros, há que se
levar em conta também, a opinião de quem não crê na existência de Lá. Seria
assim: acabou, acabou — e até o próximo Big Bang.
Ou ainda,
existe a possibilidade de que, depois de você sair deste plano existencial —
planeta Terra — a sequência seja outra. Como em um jogo de videogame, em que
você precise passar de fase para continuar jogando e, quem sabe, um dia ir para
Lá.
Vamos imaginar
que nossa existência atual seja a terceira fase. Como nas dimensões da física,
estaríamos, então, buscando a quarta etapa (dimensão) como nosso próximo
objetivo. E quantas são as fases (dimensões)? Segundo a física clássica,
quatro: altura, largura, comprimento e o tempo. Ou mais — há quem creia em dez,
doze, como sugere a teoria das cordas. Mas não vamos discutir isso. Vamos crer
que o céu, Éden, o paraíso, ou a Terra (para quem crê em reencarnação), seja
Lá. O que seria necessário fazer para avançarmos uma “casa” no jogo?
Cumprir
requisitos que os homens sabem existir, sem precisar que uns Zés digam quais
são.
Ajudar as
pessoas sem que elas peçam e não pagar para que alguém faça isso. Quando seu
dinheiro não é entregue em mãos, a quem precise, pode “sofrer desgastes” no
caminho. E essa “corrosão financeira” é efetivada por homens que falam com Deus
e precisam de um lar, afinal de contas, todos somos seres humanos. Entretanto,
os lares destes servos de Deus, em alguns casos, têm pista de avião no quintal.
Outros pregam que você creia no Todo-Poderoso, pois, Ele vai abençoar sua
saúde. Mas a dele, quando em perigo, é Albert Einstein quem remedia.
Isso sem
mencionar outras situações que podem ser elencadas, que desabonam as verdades
bíblicas dos Zés. Como o Concílio de Trento, onde o Vaticano disse haver um só
Deus. Contudo, como entender que alguns Todo-Poderosos versem sobre roupas que
podem ou não ser usadas? Tem quem diga qual dia da semana pode descansar,
outros ditam o que comer, se pode receber sangue de outra pessoa ou não. Alguns
ainda dizem que o Grande Livro de Deus é o único que fala a verdade. Mas não é
um só Deus? Como entender que a grande cúria decida sobre as vontades do
Todo-Poderoso, sobre como as pessoas devem agir, se portar? Deveria ser apenas
uma cartilha seguida por todos, haja vista que, só existe um Deus. Mas esses
Zés não concordam nem mesmo com um Grande Livro — “tem uns sete” por aí... Às
vezes parece tudo conto do vigário e sua arca de dinheiro.
Talvez a
coisa mais lógica seja que nunca iremos saber sobre Lá. Ainda não evoluímos o
suficiente para encontrarmos Lá. Pode ser que tudo faça sentido após nossa
morte.
Por que não
crer ainda que, vez por outra, Deus — ou uma civilização mais evoluída — se
canse dos absurdos que a humanidade vem fazendo e resete nossa evolução?
Poderíamos ter sido samambaias, veio a era glacial e congelamos. Depois
evoluímos, viramos dinossauros, veio o cometa e apagou a vida na Terra.
Aqui cabe
até umas viagens bacanas. Incas e outras civilizações têm em comum pinturas de
naves (entalhadas em pedras), trajes espaciais, alinhamentos de planetas sem
telescópios, pirâmides no fundo do mar cortadas com alto grau de precisão em
seus detalhes, um templo feito de uma única pedra e muitos outros mistérios.
Parece mais
fácil provar que existem outras civilizações espaço afora, a imaginar que esses
Zés tenham razão.
Deus existe,
e grande parte da humanidade crê na existência divina. O Todo-Poderoso se
revela na sabedoria popular: “devemos amar uns aos outros como a si mesmos”;
“quando uma ou mais pessoas estiverem falando em meu nome, Eu — Deus — estarei
presente”. E que isso pode significar? Que a consciência coletiva, em vivermos
como Jesus viveu, poderá um dia revelar à humanidade onde é Lá.
O amor pode
ser Lá. Daqui não levamos nada, apenas deixamos na lembrança de outras pessoas,
o que fizemos no bem, uns para os outros.
Viemos do
amor e evoluindo, voltaremos a ele. Não precisamos que ninguém nos ensine o
caminho, somos imagem e semelhança de Deus.
O amor é a estrada,
em todas as religiões.
O escritor
do lago
Nascendo um
mundo melhor