O príncipe encantado
No interior do país, havia duas
amigas que foram criadas juntas, Luíza e Cláudia. Ambas sonhavam a mesma coisa
para seu futuro, ser feliz e formar uma linda família.
Eram vizinhas em uma pequena
vila, daquelas que todos se conhecem, são parentes, amigos, ou apenas vizinhos.
No lugarejo, a tradição familiar é regra. Com predominância católica, os
hábitos religiosos são leis. Colonizada por pessoas simples, pequenos
agricultores. Aquele lugar gostoso com uma praça, a igreja central fica a sua
frente. Algumas vendas. Ruas sem asfalto, apenas pedras irregulares, mas
somente na rua da igreja. Quatro quadras para qualquer direção e você já esta
saindo da vila. Andando uns vinte quilômetros, há uma cidade grande.
Luzia era uma menina daquelas
para casar. Seus pais a educaram para ser uma mulher, mãe, dona de casa
perfeita. Desde cedo aprendeu a arte da culinária, até chás para dores ela
entendia. Fazia concertos em roupas. A casa estava sempre em perfeita ordem.
Era muito educada. Tinha um conhecimento sobre sexualidade, pertinente a
cultura de onde foi criada. Enfim, era a moça ideal para um casamento
tradicional. E ela amava ser assim, uma mulher perfeita em busca de um príncipe
encantado.
Cláudia a mesma coisa, outra
menina para casar. Também educada nos moldes de uma família de cidade pequena.
Porém, seus pais tinham doutrinas religiosas um tanto diferentes. Seus pais
acreditam apenas em Deus, não no querer dos homens. Eram até um pouco postos de
lado, em algumas circunstancias. Como por exemplo, na quaresma, em que a
família não se abstinha de carne. Até faziam, mas por respeito aos amigos. Como
fazer a confissão, para eles era um ato indiferente, faziam suas orações a Deus
e como o viam, pediam desculpas ou faziam agradecimentos, ao próprio criador,
não usavam de intermediários.
Porém, o que os deixavam na
verdade mais afastados do convívio daquela sociedade, era o fato de não serem
casados na igreja. Uma coisa inadmissível para aquela vila. Entretanto, o casal
era muito respeitado. Nunca se ouviu qualquer discussão entre eles. Estavam sempre
juntos, às vezes ele viajava, sua família era de longe, ela ficava dias
sozinha. E isto nunca causou qualquer mal estar entre eles. Não se uniram pela
lei dos homens, porém, são um casal que vivem pelo respeito de um ao outro.
Muito diferente de alguns casais,
unidos em matrimônio na igreja e que juravam fidelidade. Porém eram casais
problemáticos, separavam, voltavam, outros viviam de aparência, diziam que
alguns, até dormiam em camas separadas.
Basicamente esta era diferença
entre Cláudia e Luíza. A distância entre o deus de uma família e da outra. No
mais tudo correu muito próximo a elas.
Algo interessante aconteceu entre
as duas, que chamou muito a atenção. Quando começaram a fazer faculdade, a
educação de casa, de cada uma, as pôs um dia, a discutir sobre o príncipe
encantado. Escolheram o mesmo curso, filosofia. E depois de certo tempo de
faculdade, questionaram, existe um príncipe encantado?
Para Luíza sim, afinal de contas,
foi isto que aprendeu a vida toda. Deveria ser mãe, mulher, dona de casa,
seguir o que dita os bons costumes daquela região. Agindo desta forma, um dia
iria conhecer uma pessoa, que a faria muito feliz.
E no começo da faculdade, viveu
isto por algum tempo. Conheceu Carlos, um rapaz de uma cidade vizinha, bonito,
inteligente, culto, de família antiga daquele lugarejo. Também fazia filosofia.
Porém era o primeiro namoro de Luíza, ela não sabia bem como se comportar.
Pedir a ajuda de Cláudia, também não era grande coisa, ela não tinha muita
experiência. Mas as dicas de sua mãe, a preveniu de ataques, de meninos mal
intencionados. No inicio era interessante o namoro, mãos dadas, ir à igreja,
caminhar entre as pessoas da cidade, com aquele que poderia vir a ser seu
marido. Contudo, passado uns tempos, os beijos e caricias de Carlos começaram a
querer “conhecer” áreas proibidas. Só destinadas a depois do casamento. Em uma
conversa sincera, decidiram romper o relacionamento. Carlos confidenciou que
era muito jovem para pensar em casamento, e que gostaria de aproveitar mais sua
juventude. Luíza entendeu, afinal de contas, sua mãe a alertou disso - há
pessoas que querem apenas passar tempo e você não foi educada para isto. Mas
tudo bem, seu príncipe encantado poderia não aparecer no primeiro encontro. Foi
alertada disto.
Logo após o termino do
relacionamento de Luíza, Cláudia conheceu uma pessoa, João. Um cara mais velho,
cursava o quarto ano de jornalismo, comunicativo, estudioso, sempre discutia
sobre noticiais atuais e se agradaram fácil um com o outro. As orientações de
sua mãe, com relação a sexo para Cláudia, estavam mais direcionadas ao uso da
camisinha e as consequências na falta desta.
Isto não quis dizer, que Cláudia
saiu desde cedo conhecendo as artes do sexo, no entanto, a preveniu de doenças.
E o namoro foi gosto, durou um bom tempo, mas logo que João terminou a
faculdade, buscou outros ares e o namoro acabou.
E aconteceram outros namoros,
mais duradouros ou não, uns mais gostosos, outros apenas decepções para ambas.
Porém, o que crescia entre as duas era algo com relação ao príncipe encantado.
Este foi tomando outras formas, não era mais um cara num cavalo branco, lindo,
atlético, de família, aquele dos contos de fada.
E sabiam, a realidade é outra. O
cara maravilhoso que elas procuravam era diferente, trabalhador, responsável,
pai de família, uma pessoa preocupada com o futuro de um casal, da vida em
sociedade. Este era o príncipe encantado que elas idealizaram. O filho de reis,
só Hollywood poderia suprir. Contudo, uma pessoa que respeitasse um ao outro,
já seria muito bom.
Passado algum tempo após o
termino da faculdade. Decidiram morar na cidade grande e continuar seus
estudos. Porém, os pais de Luíza não viram com bons olhos isto. Acharam que
Cláudia, em razão da orientação religiosa dada por seus pais, estaria tirando
Luíza, do caminho que eles traçaram a sua filha. Ela já deveria estar casada,
no mínimo noiva e nada. O que teria acontecido indagavam os pais. E um dia
chamaram Luíza para conversar sobre casamento, relacionamentos. Ela tremeu,
sabia já que os pais iriam questionar sua demora em ter uma família.
Então decidiu conversar com
Claudia, para que ela ajudasse a argumentar sobre ainda ser solteira.
E cada uma falou um pouco sobre
aquilo que viu na vida, conforme a ótica religiosa de seus pais.
Luíza disse que ainda quer um
príncipe, mas as coisas não são bem assim. Esta pessoa só existe em filmes,
contos de fada, novelas, a realidade é outra. No que Cláudia concordou de
pronto. A pessoa que ambas procuram, é a mesma que os homens querem para suas
esposas. Isto foi confidenciado por alguns namorados a elas. Pessoas mais pé no
chão, que não buscavam a bela adormecida na torre. Aspiravam por uma pessoa
simples, fácil, sem chiliques de princesas, que batalhassem por alguém, que
estivesse sempre a seu lado. Na alegria, tristeza, doença, no tombo, enfim, em
qualquer situação. Esta pessoa não é fácil de encontrar, mas caso aconteça,
você será feliz. E não há que ser um príncipe.
Então Cláudia emendou; - pois é
nossos pais tem um relacionamento maravilhoso. E continuou; - não parece ser só
o amor que os une, vejo também o respeito que um tem pelo outro, como o fator
decisivo para esta união.
E Luíza disse; - concordo pessoas
adultas, escolhem também pessoas adultas, para serem felizes.
Então Cláudia disse; - sou filha
de um príncipe e uma princesa, filhos do rei mór, Deus.
E fechou com chave de ouro; - no respeito que
um tem pelo outro, geraram eu. O verdadeiro amor entre um homem e uma mulher.
Este é para Deus, o casamento
perfeito.
Paulo Cesar