Seja
você também uma Antônia João Fernanda...
E
João foi deitar, seu dia acabou feliz. Enfim, depois de anos de luta, ele e
Fernanda, alcançaram seus objetivos. Quem diria, o mundo tem solução, porém,
para chegar a este patamar, a guerra foi daquelas.
João
era um menino cheio de ideias, desde muito cedo, falava “difícil”. Dominava
precocemente, assuntos de gente grande. Isto o tornou conhecido na vila onde
morava. A fama o fez capitão do time, presidente do grêmio, líder dos jovens na
igreja. A política parecia um caminho natural.
Filho
do Seo José e Dona Maria, mecânico e costureira. Sua vida não foi difícil
economicamente, bons profissionais, os pais lhe supriam pequenos luxos.
Ademais, João era econômico, “não era de gastar a toa”. Aos dezoito anos de
idade, o fusquinha veio mais com orgulho do pai, em ajudar, do que reservas do
filho. Mesmo assim, Seo José “turbinou” o fusca com belas rodas.
A
fama precoce de homem inteligente, o conhecimento sobre assuntos variados, fez
sua fama seguir naturalmente, o curso de “bom partido”. E Fernanda chamou sua
atenção. Bonita, muito inteligente, estudiosa, de família boa da cidade. Logo
se “encontraram” e foi amor à primeira vista.
João
escrevia artigos para o jornal da cidade. E vez por outra, presenteava Fernanda
com poesias. O sim não demorou e os cidadãos foram padrinhos daquele casamento.
Todos os amavam.
João
formou Sociólogo, Fernanda pedagoga. O sucesso na política, era apenas uma
questão de tempo. Logo no primeiro mandato como vereador, João fez sucesso. Seus
projetos sempre voltados à população, eram facilmente aprovados. A mão do
Sociólogo, nas obras para a população, com o apurado instinto da pedagoga, eram
sempre bem aceitas. O posto de saúde na periferia, com horta comunitária, foi
um sucesso. Logo outras cidades na região, copiaram a ideia. E uma frase de
Fernanda, “uma horta que faz bem aorta”, referindo-se a alimentação a base de vegetais,
como sinônimo de saúde, ficou conhecida.
A
oposição não tinha muito que fazer, para tentar impedir o sucesso político de
João. Sua vida foi sempre voltada à família, sociedade, e uma aliada do quilate
de Fernanda, com suas estratégias de pedagoga, fomentavam o futuro brilhante.
Tudo isto o fez um páreo duro. Venceu fácil para vereador. Prefeito, seria o próximo passo.
E
nesta hora, a excelente reputação de João, como servidor, somada a arquiteta
política Fernanda, fez deles, vencedores natos.
Os
antecedentes de João, para a promissora carreira política, começaram a
despertar o “desinteresse de gente grande”. A oposição estava perdendo
dinheiro. Não adiantava pedir ajuda, muito menos oferecer um “cafézinho”, João mantinha
uma “ficha limpa”.
O
pequeno patrimônio do casal, condizia com seus ganhos. Não faziam ostentações,
muito menos estavam às colunas sociais, em festas badaladas. A continuar com
este histórico político, João seria uma pedra no sapato da oposição.
E
como política, é morada de “raposas velhas”. Precisavam fazer algo e logo, para
desabonar a moral de João.
Porém,
como derrubar um político como este. Sentaram os principais “cabeças da
situação”. Só tinha poderoso chefão, dono de rádios, empreiteiro, patrão do
jogo do bicho, fazendeiros fortes, até líder de desocupadas, apadrinhados do
tráfico de drogas. A lista era interminável. Sem deixar de mencionar ainda,
estes, representavam cada um, uma dezena de outros sub-grupos.
A
região em questão, era de fronteira e haviam os interessados que esta ficasse
desguarnecida. Assim entrariam armas, que manteriam quadrilhas de assaltos a
banco, até “pés de chinelos” assaltantes de rua. Caso a fronteira fosse bem
guardada, não seriam aceitos cigarros, bebidas, remédios e mais um “mundo de
coisas”, sem falar nas drogas, o carro chefe da grana, do sub-mundo do crime.
E
estas, fazem a farra de muitos políticos tidos como, santinhos. Gastam fortunas
em luxos, carros, mansões, viagens, festas caras, prostituição, tudo com
dinheiro advindo do tráfico.
O
pai trabalha, compra uma TV digital, o filho drogado vende na “boca”. O pai se
sujeita a comprar de volta, faltam dez prestações, paga barato. Tem também o
aposentado, que ganha uma miséria para sobreviver e a filha pega o cartão do
pai, torra a grana nas drogas, e ainda volta para casa, com um bebê no ventre.
Mais
uma criança fadada a vender picolé, drogas, pedir dinheiro nas esquinas, até
completar uns dez anos. Depois vem o crime e aos vinte poucos anos, morre ou
passa boa parte de sua vida na cadeia. Sai e com sessenta anos, lembrando a lei
dos sexagenários no tempo da escravidão. Não aprendeu nada, não sabe fazer
nada, vai mendigar uma aposentadoria. Com sorte, vai vender picolé. É o circulo
vicioso, a lei do retorno, que vai e volta. Agora seu neto vai manter o filho
do traficante, do político com seus carrões, mansões, e outros.
Então,
como frear João, um “mal” para os negócios? Fácil disse um empresário da gangue,
“uma amante sempre resolve”.
“Contrataram
uma mulher bonita”, explicaram seu “serviço”. Ela foi executar as ordens. Câmeras
escondidas e tudo pronto para ser gravado. Contudo, marqueteiro ruim é piada
sem graça, faz cada uma.
Não
foi verificado os antecedentes da moça. Ela moradora de outra cidade, foi
contratada para o trabalho. Depois de explicado os detalhes, do que precisava
fazer, Antônia riu calada.
Seu
pai havia morrido em posto de saúde, usado como hospital, para pessoas de baixa
renda. Hospital este, que a cada quatro anos, era aventada sua construção.
Passava as eleições e o dinheiro sumia, “de novo”. Ou apenas era dado outro fim
a este, particular lógico. Os políticos da cidade, trocavam de carro,
construiam casas, pagavam festas e a população continuava morrendo nos
hospitais. Antônia, revoltada disse em entrevista que quando pudesse, iria
“ferrar” com os coronéis da cidade. E eles não averiguaram seu passado, antes delegar
o trabalho.
Sabendo
da honestidade de João, falou com ele. E quando os “patrões”, chamaram Antônia
para passar os detalhes, estes estavam sendo filmados. Antônia sem chamar
atenção, fazia perguntas e o marqueteiro do mal, sem desconfiar de nada, deu
nomes aos bois, detalhes de bens, de laranjas e outras maracutaias.
O
ministério público sorriu.
No
dia marcado para o trabalho, todos esperando o desfecho da filmagem de João e
Antônia. Eis que a polícia chega a casa, onde parte dos comparsas estavam reunidos,
para festejar a morte política de João.
Contam
que foi um Deus nos acuda, como diz música, só dava Judas pedindo perdão. Em
delação premiada, tinha dedo de seta adoidado, todos eles afim de entregar os
irmãos. E a malandragem caiu.
João
e Fernanda sorriam ao lembrar isto, ocorreu há uns trinta anos. Hoje, por ter
uma reputação perfeita, foi eleito presidente da república.
Onde
só deveriam chegar pessoas de ficha limpa.
E
João foi deitar, seu dia acabou feliz. Enfim, depois de anos de luta, ele e Fernanda,
alcançaram seus objetivos. Quem diria, o mundo tem solução, porém, para chegar
a este patamar, a guerra foi daquelas.
O
bem, quando Deus une, não é separado pelo homem. João não trairía seu amor,
este não apenas a sua mulher Fernanda. Mas também a sociedade, assim devem ser
os servidores públicos.
Paulo
Cesar